A convivência social não precisa ser complicada: muitas ações podem melhorá-la em diversas escalas – sejam elas feitas pelo cidadão, empresa ou governo

Se você não mora em uma ilha deserta, certamente já teve que lidar com os perrengues do convívio social na comunidade. Seja com os vizinhos da rua em que mora, do prédio ou do condomínio. Conviver é se relacionar com as pessoas e isso pode resultar em momentos prazerosos, mas também pode causar dificuldades. Por isso, a educação social e a empatia são os principais pilares para uma convivência harmoniosa, mas não é tão simples assim.

Para o economista urbano Alberto Paranhos, que tem, entre outras experiências, especialização em gestão do crescimento urbano, é preciso levar em conta que a informação não é compreendida da mesma maneira por todos. Muitas coisas influenciam, como faixa etária, classe social, formação educacional e cultural. Partindo do princípio de que as pessoas são diferentes, mas as regras são as mesmas, como encontrar um equilíbrio entre o que deve ser feito e o que realmente fazem?

Garantir o acesso à informação a todas as pessoas é a melhor maneira de garantir uma boa convivência em sociedade – Foto: Pixabay

Paranhos, que trabalhou no Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) por uma década e ainda atua como consultor do instituto, ressalta que o objetivo da vida em comunidade deve ser o bem-estar comum. Por isso, tolerância e solidariedade são fundamentais nessa busca por uma convivência saudável.

Com o crescimento das cidades, a forma de conviver na sociedade pode gerar exclusão, desigualdade e discriminação e é preciso evitar isso”, diz o economista, que trabalhou por quase duas décadas no ONU-Habitat, agência da ONU para a Cidade, a Habitação, os Serviços Urbanos e os Governos Locais.

Liberdade pede responsabilidade

Para ele, uma gestão democrática é necessária e evita essa trilogia. Isso também se aplica na gestão de condomínios e bairros planejados, por exemplo, que são pequenas amostras da vida em comunidade. “Todos queremos exercer nossos direitos com liberdade e igualdade”, revela.

No entanto, a máxima “minha liberdade termina onde a sua começa” deve valer para os casos de convivência. Desde regras simples, como separação de lixo, até regras de segurança:

É preciso uma educação cívica para viver em sociedade e um bairro planejado propicia isso. Isso porque em bairros planejados, tudo foi executado para funcionar muito bem para a comunidade, basta que ela participe, se integre e interaja com as mudanças necessárias”.

“O incorporador não pode garantir que isso vá funcionar, mas pode dar ferramentas para que a comunidade se engaje em busca de uma convivência melhor”, reforça. Trata-se de uma gestão em conjunto entre moradores, que sabem da realidade do cotidiano, e gestores, que podem definir as regras e ter a responsabilidade de informar e educar a população para que todos compreendam da mesma maneira a necessidade de agir em conformidade.

“No fundo, a educação é a principal ferramenta para uma boa gestão da comunidade”, revela Paranhos. “É preciso ouvir a dor do outro. É preciso escutar as pessoas e se colocar no lugar do outro. Não me surpreende que hoje em dia existam tantos síndicos profissionais, que essa função se profissionalizou, porque cuidar do todo é difícil quando as pessoas não estão preparadas a conviver com a diferença”, revela.

Ter empatia e saber conviver com as diferenças é um grande passo para uma boa convivência – Foto: Pixabay

O papel do incorporador

O incorporador não pode garantir uma boa convivência social entre os moradores do empreendimento, mas pode oferecer ferramentas para que essa convivência aconteça em harmonia e da melhor forma possível. Essa é a opinião de Yasmin de Nadai, Gerente de Produtos da Bairru, responsável pelo bairro planejado Bairru Parc, que está sendo construído em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba.

Para ela, o maior instrumento que o incorporador deve oferecer é criar oportunidade para as pessoas se encontrarem. “Isso acontece oferecendo espaços de convivência atrativos. Para as pessoas permanecerem nos locais em comum. Dando oportunidade para as pessoas saírem de casa, interagirem umas com as outras em espaços de qualidade”, reforça.

E isso acontece quando são oferecidas diversas atrações para todos os gostos: desde pista de skate, quadras esportivas para basquete, vôlei, futebol; até praças e ambientes para apenas sentar e desfrutar a natureza com segurança. Segurança, aliás, é um item fundamental que deve ser oferecido pelo incorporador para que as pessoas se sintam confortáveis e tenham mais qualidade de vida e bem-estar.  “Assim, existem mais oportunidades de criar vínculos, de conhecer pessoas e de conviver melhor”, complementa.

Para Yasmin, outra questão importante é o incorporador orientar e estimular os moradores a criar uma Associação de Moradores, que pode agir de acordo com os interesses em comum. “Com isso é possível oferecer palestras, discutir assuntos específicos, encontrar soluções, preparar festas comunitárias, por exemplo”, diz concluindo que, se o incorporador investe na pré e pós-gestão da comunidade que vai ocupar o empreendimento e o entorno, as chances de uma boa convivência aumentam exponencialmente.

Dicas para viver bem em comunidade

  • Conheça as regras do prédio, condomínio ou bairro planejado que você mora. Se houver um regulamento interno, leia com atenção. Regras foram feitas para garantir o bem-estar de todos. Esteja bem-informado.
  • Não faça o que gostaria que não fizessem com você. Empatia é fundamental para viver em comunidade.
  • Barulho alto incomoda. Evite e siga o regimento interno de horários e locais que permitem esse tipo de situação.
  • Animais de estimação são cada vez mais comuns, mas lembre-se que a responsabilidade pelo pet é sua. Cuide bem dele e respeite as áreas que eles podem transitar.
  • Na dúvida, fale com o gestor da comunidade, condomínio ou bairro planejado. O diálogo é sempre a melhor maneira de resolver situações adversas.

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